"Foi o primeiro anime que eu vi, logo, é o melhor" - eu não duvido que, para muitas pessoas, este jogo psicológico seja uma realidade. xD Mas também que depende um bocado da pessoa.
Se vocês forem o tipo de pessoas receptivas a novidades, dificilmente entrarão na categoria de "fãs depressivos" que só sabem olhar para Adventure e mais nada. lol
No meu caso, por exemplo, sou fã de Digimon Adventure, mas gosto de todas as temporadas sem excepções. Atrevo-me a dizer que, de todas, simpatizo particularmente com Digimon Savers.
Mas um facto tem de ser esclarecido: Digimon Adventure é, e sempre será, uma temporada especial.
A questão é: PORQUÊ?
Enquanto vocês analisarem isto "como fãs", é provável que não cheguem longe (porque o fã apenas gosta, com a alma, sem precisar de explicar porquê). Têm que se colocar no lugar do apreciador. Aquela pessoa que PENSA o anime. Aquela pessoa que quer DESCOBRIR até onde os criadores do anime foram inteligentes.
Primeiro: reparem que, hoje em dia, nos animes "modernos" temos muitos efeitos especiais, e parece até que o nível de "foderosidade" se mede pelo número de explosões, efeitos especiais, ou transformações mirabolantes dos protagonistas.
Com Digimon Adventure, reparem que isto não é exactamente assim. Transformações existem, mas elas não são o foco principal. As lutas? Algumas lutas de Digimon Adventure duram MUITO POUCO! o.0 Até porque a qualidade de animação (diga-se de passagem) chega a ser PÉSSIMA, em alguns episódios. Mas, notem: não deixa de ser cativante! Porque existem muitas lutas INTERIORES! Conflitos emocionais de um grupo de crianças que é desafiado a conviver e lidar com as suas diferenças, para sobreviver.
Isto acontece porquê?
Na minha opinião, é porque Digimon Adventure tem uma história que evolui de forma equilibrada, aos poucos e poucos. E essa história permite que os personagens evoluam ao longo da trama, COM a trama.
A narrativa, para começar, está dividida em 3 partes:
1) Apresentação da Digital World (Devimon, Etemon)
2) Regresso à Terra (Vamdemon em Odaiba)
3) Regresso à Digital World (Mestres das Trevas)
Esta construção "tripartida" é uma estratégia muito comum. Os clássicos possuem sempre esta divisão em 3. Portanto:
1) Apresenta-se uma situação (tese/introdução)
2) Apresenta-se as dificuldades (antítese/desenvolvimento)
3) Apresenta-se a solução (conclusão)
E também os personagens ACOMPANHAM esta evolução.
1) Início: temos um Tai infantil, egocêntrico, que não pensa antes de agir, que não suporta que o critiquem, e que às vezes acovarda-se perante as dificuldades
2) Desenvolvimento: os brasões surgem, Taichi falha em perceber o que é a Coragem e faz nascer SkullGreymon. Taichi brinca com coisas sérias e coloca os amigos em encrencas por causa dessa irresponsabilidade.
3) No final do anime: a gente vê um Taichi responsável, que valoriza o trabalho de equipa, aprendeu agora a ouvir as opiniões dos outros, respeita-as, e sabe sacrificar-se pelos amigos, com uma Coragem genuína.
O espectador ganha simpatia pelos personagens de Digimon Adventure, graças a esta mestria. É preciso saber contar histórias, e os criadores de Adventure provaram-se capazes de fazer isso.
Digimon Zero Two falha redondamente nesta lógica, na minha opinão. Não têm uma estrutura definida. Daí os "plot holes", e uma certa falta de carisma da parte dos novos personagens.
Não significa que eles não possuam uma personalidade - mas a nova história (na ansiedade de não copiar a 1ª) não permitiu a 100% mostrar do que eles realmente são capazes, como protagonistas.
Se o Daisuke/Davis, a Miyako/Yolei e o Iori/Cody tivessem sido obrigados a ficar presos no mundo digital, aposto que o pessoal teria outra opinião deles. xD